Pedido de Casamento
“Pedido de Casamento”
Versão “à La Pedro”
Após 8 anos juntos, existia a vontade de dar um novo passo no nosso trajeto, que nunca foi uma prioridade, mas que as conversas que tínhamos tido, tornaram a ideia com maior significado.
O plano era arriscado pois a palavra “Não” pode sempre surgir e a pressão do pedido ter de ser feito num ano par, não dava azo a grandes hesitações…havia poucos meses para tudo acontecer.
A ideia era simples em termos teóricos. Convite para jantar num restaurante de sushi que ambos adoramos (já de si irrecusável J). No início da refeição (após as entradas, claro, para garantir algum conforto na congratulação ou desilusão), teria de surgir um acontecimento marcante e inesperado, para que, no seguimento da “distração”, pudesse ser efetuado o pedido.
O plano estava traçado, desenhado, idealizado e a data não podia ser indiferente…22 de dezembro de 2020. Era altura de o pôr em prática. Na véspera e após a reserva antecipada da mesa para 2, desloco-me ao restaurante para falar com o dono e fazer uma espécie de ensaio. Entramos numa discussão saudável sobre todos os passos a dar até à formalização do pedido (posicionamento da mesa, posicionamento da Anabela – sem visibilidade para a sala/entrada, momento adequado para saída da mesa após as entradas, entrada em cena do momento musical, localização das flores, o meu posicionamento). Tudo iria acontecer num dia normal de atividade do restaurante (sem saber quantos clientes iriam estar presentes, o posicionamento da nossa mesa iria permitir que estivesse de costas para a maior parte das pessoas presentes…o foco teria de ser aquele canto da sala J ).
Semanas antes tinha já efetuado um contacto com o Coro de Santo Amaro de Oeiras. Duas coristas iriam estar presentes para cantar uma música que colmatasse a minha ausência premeditada e contribuir para a sensação de incompreensão da Anabela, até ao meu regresso.
Chegou o dia! Em preparação para sairmos, a Anabela sugere que a indumentária fosse formal, ou seja, porque não ela ir de vestido e eu de fato (eu que raramente uso fato). Apesar de estranhar a ideia, alinho, como é óbvio.
Viagem tranquila até ao local do restaurante. Ao entrarmos no restaurante é-nos indicada “a nossa mesa” e ao iniciarmos a caminhada passamos pelas duas coristas, sentadas logo na primeira mesa. A Bela senta-se no seu lugar habitual, sem visibilidade para a sala. Até agora está tudo em ordem…escolhemos a bebida e as entradas. Após as entradas, selecionamos o menu de jantar e ausento-me para ir à casa de banho. Plano em marcha.
Passo pela mesa onde estão as coristas enquanto o dono do restaurante dá luz verde. Está tudo pronto. Elas avançam na direção da nossa mesa e começam a cantar a música selecionada (“Minha Flor” – Agir)…sem a Bela fazer a mínima ideia do que se está a passar. Eu vou mais atrás….já com as flores na mão. As coristas param em frente à nossa mesa continuando a cantar a música para surpresa total da Bela e incómodo inicial.
Achando estranho a situação, a Bela sai devagar da sua posição para conseguir ver o resto da sala e aí depara-se com a minha presença em pé com as flores na mão…algo se está a passar mas ainda não é tempo para explicações porque a canção não terminou e é tempo de desfrutar do momento musical. Percebia-se que a Bela queria beber mais um copo, mas este já estava demasiado longe 😊. A canção terminou, aplausos surgiram, eu aproximei-me, entreguei as flores, retirei o anel, ajoelhei-me e já sabem o desfecho da história…SIMMMMMMMM!
Versão “à La Anabela”
Quando num ano completamente atípico o Pedro diz, vamos jantar Sushi a 22 de Dezembro, perfeito! E lembrei-me – já que mandei vir um vestido online (acontece, sem julgamentos) - e calhou ficar bem, e estou muitas vezes 24h com a linda fatiota = pijama, vou aproveitar e peço ao Pedro para irmos ‘bem vestidos’ – para não corrermos o risco de eu ir mais alta e cheia de maquilhagem e o Pedro com a t-shirt de ‘Odivelas’ por baixo e o seu adorado casaco polar.
Chegámos ao ‘nosso’ restaurante de sushi favorito e ficámos na mesma mesa de canto, que coincidência espectacular (pensei eu!) – dá para comer, deixar cair o sushi nas várias tentativas de usar os pauzinhos, ficar ligeiramente tocada com a Sangria e ninguém nos vê 😊
As entradas e sangria chegam, fazemos o nosso brinde da praxe, confirmamos com olhares e sorrisos de que estamos felizes e a travessa da comida chega. E o Pedro decide que afinal está aflito para ir à casa de banho... não tem mal nenhum, mas agora tenho de ficar a olhar para a travessa e esperar... porque seria rude comer umas peças e reoganizar a travessa não é?!
Estou nesse compasso de espero não espero e oiço umas miúdas a cantar ao longe até que se aproximam da nossa mesa (sorte, que optei por não mexer na travessa) – começam a cantar uma música que não faço ideia de quem seja – e não consigo associar ao Natal – mas o meu pensamento foi – NÃO TENHO MOEDAS – como é que agora faço se depois pedirem alguma coisa – elas são tão novinhas, devem ser de um coro de igreja!
Segundos depois noto que a empregada que nos serviu está a filmar-nos – e começo então a ouvir com mais atenção a letra da música – não sei quê, no meu jardim há uma flor – isto não pode ser do Pedro – mas já estão aqui há um bom bocado só a cantar para mim – começo a tentar sair da mesa (recordo que estou de vestido, num canto de sofá apertado, a ter de rastejar com o rabo pelo sofá até à esquina da parede para conseguir ver o resto do restaurante, almofadas caem, começo a suar, e lá vejo o Pedro na porta do restaurante com um ramo de flores. Ele vê-me, sorri (acho eu porque está de máscara) e não avança nem um passo! Fico ali no canto da mesa com TODA A GENTE a olhar para mim, e as miúdas a cantarem non stop. Acho que repeti com expressões faciais “tu és doido?” como é que uma pessoa tão reservada faz uma coisa destas!?!?”
A música pára, acho que me levanto e bato palmas e o Pedro, com a máscara presa por uma orelha, entrega-me as flores, ajoelha-se e diz o meu nome completo – só para não termos dúvidas que sou eu – e faz-me a pergunta “aceitas casar comigo?” – quer dizer – tenho sushi ali numa travessa à minha espera – já bebi sangria e é dia 22 – claro que disse ‘Aceito’. E ri-me de vergonha das palmas à nossa volta. E lá demos um beijinho tímido (sempre com aquela máscara na orelha).
Agradecemos às coristas, à empregada e dono do restaurante, depois sei que bebi quase o jarro todo e que o Pedro me explicou as partes da música que sabe que não se aplicam a nós e aquelas que lhe faziam sentido e a sua aventura na ‘contratação’ de um coro.
Para quem conhece o Pedro sabe que é super reservado e para pedir esta ajuda toda não deve ter sido fácil. Para quem me conhece sabe que gosto de festas temáticas, eventos em dias especiais mas que não sei lidar bem com coisas muito lamechas. Mas calhou tudo super bem.
Deixo-vos aqui a música, que espero que vos fique na cabeça para depois no casamento rirmos um bocado 😊 - https://youtu.be/28pt4c-kUcY